#quartaaula - Aula 2 - Ode à diversidade humana

#quartaaula 

Aula 2 – Ode à diversidade humana ou de como um filme de Hollywood pode levar a muitos questionamentos na sala de aula 


Basicamente é: Aula com filme hollywoodmainstream, lindo pra daná, amorzinho  
Qual filme? O Rei do Show (The Greatest Showman) - 20th Century Fox.
Minha ideia para a aula Direitos Humanos e cerceação de direitos, segregação racial. 

Motivos pra você ver esse filme: Eu não assisti nem Harry Potter duas vezes no cinema, e nesse eu iria quantas vezes mais me chamassem e pagando. Se isso não é motivo, é um filme doce, que inspira a pensar de novo, a sonhar de novo. É um filme sobre empoderamento, é um filme sobre mostrar quem se é com tudo que se tem. É um filme digno da frase de Sartre, que ninguém sabe ao certo como é escrita pq ninguém leu o livro: “Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós." (Fonte: TOZETTO, Leila C. J. O EXISTENCIALISMO DE SARTRE. Disponível em: http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-existencialismo-sartre.htm. Acesso em: 24/01/2018). É um filme com músicas maravilhosas e vc nem fala que é o Zack Affron e a Zendaya rsrs. É um show mesmo. Vai chorar, vai rir, vai se irritar, se emocionar, tudo que Hollywood pode fazer por nós, com uma produção linda, imagens maravilhosas. E de quebra, ainda dá pra dar aula em cima. 

Resumo antes de tudo  



Problema de se trabalhar com filmes: Como este é bastante recente nem todo mundo viu, então a sua empolgação não vai adiantar muito na sala. O que pode ser feito é segurar essa ideia e levar o filme em dvd ou quando sair em alguma plataforma online, assistem todos. Claro que também dá pra trabalhar com fotos do filme de cenas específicas e com coisas mais gerais.  

Contexto rapidíssimo do filme: EUA, New York, século XIX, momento de segregação racial e exclusão de diferentes. É baseado em uma história real. 

Imagem 1: Wilkinson, Alissa, 2017. Disponível em: https://www.vox.com/culture/2017/12/20/16762688/greatest-showman-review-hugh-jackman


Proposta: Trabalhar a questão de direitos humanos e a negação desses direitos antes de sua instituição universal e depois também.  

Objetivo: Trabalhar discurso veiculado na mídia hoje e o que era praticado na época do filme. Pensar a relação dos direitos humanos com a sociedade hoje, como são ou não são praticados hoje, e como era sem a sua instituição. Qual a atuação dos direitos humanos em nossas vidas e na vida de pessoas de outros países que tiveram Apartheid? 

Tipo de aula: Todos, dependendo do seu jogo de cintura rs. Dá pra ver o filme e debater. Dá pra ter aula antes e ver o filme como explicação. Dá pra ver o filme antes e jogar umas perguntas provocativas para pesquisarem e debaterem a parte teórica depois (o que eu acho mais legal).  

Tempo de aula: Depende se você vai precisar ver o filme ou não na sala. Eu acho que esse filme também tem material para muitas aulas, mas eu trabalharia um tema por aula, pois acho menos maçante. É interessante usar o filme para vários momentos para mostrar como podemos observar essas obras de vários ângulos e, nesse sentido, rola até comentar uma abordagem das pesquisas de cinema. Porém, eu não levaria para mais de um mês e, usaria esse tempo, apenas se a sua concordar em fazer um projeto sobre o filme. Se não, duas aulas acho que já vai, pois é possível que o filme fique muito distante na memória e perca muitos de seus detalhes.  

Avaliação: Como a proposta é o trabalho com a noção de direitos, pode-se perceber o respeito – ou falta dele - da sala pelos direitos dos colegas. Uma ideia legal seria promover debates (como discorro abaixo) e notar o respeito à fala do outro.  Dependendo de como se quer abordar as questões, podem ser feitas releituras dos filme e adaptações sobre a nossa realidade. A questão de entender o momento histórico e como isso ainda acontece tanto tempo depois. Trabalhar a noção complexa de onde deriva o preconceito dentro da nossa sociedade. Pode-se trabalhar de forma mais pra ética e moral, a posição dos personagens e do PT Barnum com seu circo. Pesquisar a vida dessas pessoas e os integrantes do circo também seria interessante - pensando na adaptação de histórias reais para o cinema. 

Temas e Atividades sugeridas: A própria noção da história dos direitos humanos. Os diferentes tipos de segregação que aconteceram em diversos países para além dos EUA (como África do Sul, mas não só). A história dos tipos de direitos (social, civil, político, ambiental, coletivo etc) é importante de ser relembrada ou abordada. Legislações sobre direitos e suas contradições, por exemplo, direitos humanos e a segregação racial em vários países; ou Brasil assinar DH na ditadura. Relembrar a Carta de direitos do homem e do cidadão e a morte na guilhotina de Olympe de Gauges por ousar propor a carta de direitos da mulher e da cidadã na Revolução Francesa. O tema dos direitos pode ir pra qualquer grupo social e seria legal se de abordar os vários.  
Inclusive, podemos discutir a história do circo, de como foi encarado na história, daquilo que lembra o circo, do preconceito com as pessoas do circo no próprio filme e em outros locais. Pode-se relacionar com o filme O Palhaço de Selton Melo, lindissimo!! Pode-se lembrar da política de pão e circo e do que o entretenimento representa em cada momento. E dentro disso, como encaramos os direitos que vão se expandindo, por exemplo, o direito dos animais dentro do circo.  
Pensando no filme: O quão "ok" seria fazer um circo de freaks? Essas pessoas são respeitadas como artistas ou são vistas como objetos de divertimento? E o nosso big brother, como pode ser encarado? 
Quanto a segregação racial: Não consegui encontrar a foto, mas em uma cena existe a diferenciação da escada no teatro para negros e brancos, assim como na cena de convite da Rainha da Inglaterra Zendaya (Anne) pergunta se também estaria convidada por ser negra. Então o quão delicado também era se entrar para um circo de freaks pela diferença da cor de sua pele - o que também inclui os albinos que aparecem no filme enquanto figurantes? 
O debate dos direitos: Após pesquisarem, os alunos poderiam fazer um debate contextualizado, fingindo que estão na época do filme. Eles podem se dividir em personagens históricos, brasileiros ou não, para defenderem os pontos de vista a favor e contra. Após determinado tempo, com um som (palmas, apito, sino), os papeis se invertem e quem defende tem que acusar. É bom para lidar com argumentos e entender os argumentos de personalidades e autores. Nessa atividade, é possível avaliar como estão construindo seus argumentos e entendendo a teoria dentro de seu contexto. Pode-se pedir para que se posicionem individualmente depois também em relação a essas teorias, lembrando que DH não são relativos.  
Pode-se e deve-se trabalhar a nossa noção de racismo e mito de democracia racial com a teoria de Emilia Viotti em contraponto com Gilberto Freire.  
Pode-se comparar a história eurocentrica e realizar pesquisas sobre os impérios africanos. Não tomar a África como uma coisa só. Faça um jogo de nomeação de países e perceba quantos alunos citam países da África. E dê chocolate pra quem lembrar rs. Quando fiz esse jogo com uma turminha do 8º ano de um projeto, dos 8 alunos em sala, 2 citaram a África, um enquanto continente ( o que não configura país e não conta no jogo) e outro citou UM país. O Jogo basicamente é citar a maior quantidade de países em dois minutos. Depois pode-se tentar inserir esses países no mapa mundi, meus alunos infelizmente dispersaram nessa hora pois era o fim da aula, mas alguns brincaram e foi legal. E problematize com eles qual continente mais aparece e qual menos? Tem mais europa que américa ou outro continente? Por que será? Mais "primeiro" mundo do que terceiro?  
O tema clássico dos direitos e deveres: o que vem primeiro? como esses dois temas se relacionam? ter o direito a vida é ter o dever de respeitar a vida do outro. Polemica, trabalhe delicadamente e cuidado com silogismos, ajuda a turma a levar a discussão com maturidade: se alguem falta com seus deveres, perde seus direitos? Aí entra pena de morte, direito ao armamento, bandido bom é bandido morto, direitos humanos para humanos direitos e posicionamentos fascistas. Trabalhar os diferentes autores do liberalismo e liberdade individual (J Locke e J Stuart Mill) pode ajudar pensar nossos direitos de propriedade, liberdades e respeito ao individuo e como isso se gesta na nossa sociedade. 

Mídias! Visitem esse instagramCheckout Africa (https://www.instagram.com/checkoutafrica/) - é lindo! Não traz uma visão de áfrica = girafa. Claro que traz a vida natural dos diferentes países, mas também suas cidades, suas estampas, sua cultura, suas danças, sua gente. É lindo demais e eles fazem um trabalho muito legal! Passei pros meus alunos uma vez e eles adoraram. Pode inclusive ser debatido, dentro da proposta da Aula 1 sobre esteriótipos nacionais, o que pensamos da África, o que costuma ser veiculado e o que esse instagram mostra desse continente. 

Cuidado! Se você for prof brancx e tiver alunxs negrxs em sua aula, deixe que eles falem SE estiverem a vontade. Existe diferença entre respeitar o lugar de fala (e se eles tomarem a fala, não interrompa, não corte e não menospreze pq vc não sabe o que é alem da teoria) e achar que seu aluno vai servir de bode expiatório da sua aula ou de cutucar para que falem pq esse é o única momento em que eles tem voz. Pára que não é assim. Não force, não empurre seus alunos para falar de experiências que podem ser deveras doloridas. A cena da Anne com Phillip no filme mostra isso, um branco NUNCA vai saber o que é ser olhado com preconceito e com desprezo por uma ampla maioria, sobre sentir medo, angustia, tristeza de ser tratado como muitas vezes as pessoas negras ainda são. Porém, nao nos esqueçamos que preconceito racial também atinge indigenas, de forma diferente, mas atinge. Se os seus alunos estiverem desconfortaveis, e isso eu já percebi em aula com alunos negros se afundando na cadeira com esse assunto, mude o foco. Se o clima ficou pesado, traga outra "raça", grupo social, grupo musical, diferentes regiões do nosso próprio país ou cidade para mostrar que o preconceito está presente em diversos locais e como ele está relacionado a não entender e não aceitar o diferente e o que se pode fazer para mudar. Principalmente, e o que eu vi que funcionou na minha aula, saiba até quando falar sobre a parte ruim dessa discussão. Nós, brancos, tendemos a não sentir na pele, mas no papel de professores temos que saber até onde ir. Eu, quando pude no cursinho, chamei um amigo negro para dar essa aula por mim e, foi uma das aulas mais belas que eu já vi em toda a minha vida (Geandervc arrasa!). E quando não pude convidar ninguém, eu sabia que não adianta escancarar a ferida e não fazer nada. A aula não é sobre vitimizar pessoas, a aula não é sobre achar que as coisas estão dadas, a aula não é pra debater teoricamente o problema que milhões de pessoas vivem no dia-a-dia. Eu soube, no momento, trazer para os meus alunos os exemplos de empoderamento, de pessoas que reverteram situações, de discussões que são feitas e de mudança. Também soube me calar e deixar que trouxessem suas experiências quando isso fazia sentido para eles. E de como nós podemos nos posicionar diferentemente, sobre não tolerar a discriminação. Cada sala vai pedir uma abordagem, mas eu lembro dos meus alunos se levantarem na cadeira e estufarem o peito quando fechamos a aula com isso, com a forma de tratar o ser humano como múltiplo, como plural, como diferente e a história como algo que fazemos todo dia. 

Não sou eu, branca, que vou empoderar uma pessoa negra, mas sou eu, professora, que posso ajudar, na minha disciplina, a ter apoio e ambiente pra mudança, pro debate, pro acolhimento. 

Vejam o filme e Boa aula! 

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