Os alunos e a não-aprendizagem: para quem apontar o dedo?

Olá, pessoinhas! 

Atualmente, estou fazendo pós-graduação em Psicopedagogia. Faço o curso na Faculdades UnyLeya, é um curso EAD e eu achei que ia ser bem ruim. Mas imagina um curso bom! O material é muito bem escrito e as atividades realmente nos fazem refletir. Não há aulas ao vivo, isso você pega no Youtube tá, e os materiais indicam os caminhos e obras para ir buscar mais conhecimento depois, já que toda apostila é um tipo de resumo. 

No módulo 7, sobre diagnóstico de não-aprendizagem, tivemos uma atividade para reflexão no fórum e eu me empolguei. rs Mandei para a prof no fórum, mas me deu vontade de colocar essas reflexões aqui também. Então, segue o texto e se alguém quiser conversar mais sobre isso, é só comentar. 

Algumas das questões motivadoras foram:
- Que fatores podem contribuir para a não-aprendizagem?
 - Por que os objetivos da AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA SÃO A INSTITUIÇÃO E O CONTEXTO ESCOLAR e não o aluno que fracassa?

A psicopedagogia é uma área bastante ampla e encontramos os segmentos da clínica e da institucional em seu meio e em suas técnicas de diagnóstico. A Escola, local chave para a construção da aprendizagem formal, é uma das instituições sociais mais delicadas, controversas e assediadas atualmente. E é também alvo e contexto para a ação psicopedagógica.

Ao nos depararmos com o erro e com a não-aprendizagem nos espantamos e nos sobrecarregamos e muitas vezes, nos desesperamos. Isto para pais, terapeutas e professores. A frase “Onde foi que eu errei?” aparece muito, mas ela é tratada superficialmente. Tanto é que a culpa sempre recai no aluno, apesar de ele ter uma parcela de responsabilidade e não toda. A autoanálise e a autopercepção estão longe da escola e dos professores. E por um motivo simples: demanda tempo. E tempo é algo escasso no ambiente escolar. A LDB nos trouxe um problema gigantesco. Se atualmente temos 97% das crianças brasileiras na escola é culpa dela. Isso é bom, pois todos tem direito à educação. Porém, a massificação da educação formal transforma a escola em uma produção em massa de alunos. E a massa não percebe o individuo, não percebe o particular, não percebe o tempo de cada um. As metodologias aplicadas erroneamente, como a progressão continuada, pioraram a nossa situação ao invés de resolver. A verdade é que temos alunos que não são olhados e percebidos pelos seus professores. Temos professores que não são olhados e não são vistos pelas gestões e seus empregadores. Temos uma Educação Nacional sempre acusada e nunca compreendida. Parece que qualquer um é pedagogo quando se trata de criticar o que o professor não faz e deveria fazer, mas ninguém quer entrar no lugar desse professor.

Desabafos a parte, percebemos parte do problema. Temos hiatos nos processos de ensino-aprendizagem que envolvem diversos elementos. Por isso é tão importante que o psicopedagogo observe o contexto. O Aluno pode sim, ser responsabilizado pela sua não-aprendizagem quando se identifica nele falta de estudo. Porém, é preciso saber de onde essa falta de curiosidade e de vontade de conhecer deriva, pois o aluno não está sozinho, ele está em sociedade. Assim, podem ser fatores que contribuem para sua não-aprendizagem: contexto educacional familiar (a educação é valorizada na família? Ter ido a escola mudou a vida e situação social dessa família? Existe espaço para o conhecimento e a troca de conhecimentos ou apenas o conhecimento imposto?), contexto de estudo em casa (existe espaço para esse aluno estudar? Existe silêncio? Existe respeito com seu momento de estudos? Quem o ajuda a estudar, faz isso com interesse ou com má vontade? Existe briga quando ele não aprende ou não entende a matéria?), contexto escolar (ele gosta da escola? Ele tem amigos? Ele gosta do docente? O professor é atencioso? Esse professor está sobrecarregado? Quantas escolas e quantos alunos esse professor tem? Essa gestão ajuda o professor a manter uma boa sala ou é desrespeitosa com o professor? Esse professor é respeitado ou desacreditado pelo aluno e por quê? A metodologia da escola está de acordo com as capacidades do aluno e da sala? A explicação e as atividades são condizentes com o que o aluno consegue entender? A escola é bem cuidada pelos professores, alunos, gestores e comunidade? A escola é valorizada nessa comunidade?), contexto sociopolítico, cultural e econômico ( a escola é valorizada nessa sociedade? Adianta estudar? As pessoas valorizadas socialmente e bem-sucedidas são pessoas que valorizam o estudo e estudaram muito? A educação é uma pauta importante do governo atual? Existe investimento nessa escola? Tem como ter uma “vida boa” na visão do aluno sem estudar? Estudar é considerado importante? Existe motivo claro para que se estude e esse motivo é valorizado pelo alunado?).

Eu tenho uma experiência pessoal e sei que ela pode ser generalizada. Sempre fui uma aluna ativa e curiosa e isso me acompanhou a vida toda, pois meu contexto era muito intelectualizado e a educação valorizada. Na pré-escola, eu não faltava e amava ir às aulas e aprender, pois tínhamos aula, alfabetização (éramos alfabetizados com 4 anos) e tudo mais por ser uma pré-escola particular. Quando fui para a primeira série, tive que ir para a escola pública. E o meu lugar conhecido e carinhoso de aprendizagem com as “tias” que eram um encanto, se tornou um lugar frio, solitário e escuro, pois a escola não era bonita. E a minha professora era, como uma criança vê, uma bruxa. Ela só gritava e só brigava e ainda errava coisas na matemática. Eu que ia na escola com febre até a diretora me mandar embora no pré, não queria ir mais à escola de jeito nenhum. Meus pais viram o problema e me tiraram daquela escola depois de um ano e eu fui para a particular de novo, com professoras adoráveis e um ambiente intelectual maravilhoso. Nem todos tem a mesma chance e tem que continuar com professoras horrorosas, com didáticas velhas e crianças sem educação a vida toda. As nossas crianças gostam de ir a escola porque elas são naturalmente curiosas, mas é um contexto que destrói a alegria do conhecer e substitui por medo, por aversão, por ansiedade.


O aluno é ser social por ser humano. E todas essas perguntas, cobranças e desejos recaem sobre ele. Recai sobre ele o mundo que construímos e que ele vai construir e reformar. O aluno tem sua responsabilidade sim sobre seu fracasso, mas não é inteiramente dele essa responsabilidade e este fracasso é construído socialmente. O aluno que fracassa é um resultado de toda uma estrutura secular da educação no local em que ele está inserido. Assim, o aluno tem responsabilidade, hoje, 2019, de não tentar resolver suas dúvidas quando elas aparecem em sala, seja na aula ou na internet. Porém, toda a sua construção de aprendizagem não é autônoma. Existe uma grande diferença entre um aluno protagonista e um autodidata. 



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